ARTIGOS
 
"A pelota basca e sua expansão. Algumas reflexões." por Soraya Cuellas
 
Em visita no Centro de Estudos Vasco Eusko Ikaskuntza onde tivemos uma acolhida muito simpática, conversamos sobre vários assuntos atuais e dentre eles a Pelota Basca (esporte que pratico). Estávamos ali por ocasião do Campeonato Mundial de Navarra e durante a conversa comentou-se a matéria de um jornalista que no decorrer do torneio mundial criticava a questão do nível de alguns países participantes. Da mesma forma também comentou-se que o País Basco é conhecido no mundo por duas coisas: a ETA e a Pelota Basca. E é justamente neste ponto que, em minha opinião, cabe uma crítica.

Frontón Club Atlético Paulistano (Brasil).


Não me parece verdadeira a afirmação de que a Pelota Basca tenha tal dimensão, isto é, infelizmente, ela está longe de ser assim tão conhecida e se fizermos uma avaliação real veremos que por mais que se ande pelo mundo são poucos os países que conhecem e praticam este esporte tão fascinante e que nos une. Vejamos: na Europa continental se situa a Federação Internacional de Pelota Basca e hoje ela conta com 2 países que praticam este esporte: Espanha e França. Na América, já contamos com um maior número de países praticantes, que enfrentam problemas devido ao estágio de evolução política e social deste continente, mas que abraçaram a Pelota Basca com histórias lindas de emigração do Povo Basco que veio para cá. Como resultado, estamos ainda carentes de atenção e de participação em torneios internacionais para que não haja um retrocesso neste intento de difundir o esporte basco na América. é bastante comum escutarmos a seguinte resposta de pessoas para quem digo que pratico Pelota Basca: " - .... pelota o que?'' e isto, lhes asseguro, ocorre em toda a América que hoje conta com um número infinitamente maior de países praticantes do que a Europa. O mesmo ocorre na Europa!

Analisando esta realidade é que questiono a afirmação daquele jornalista que criticava o nível dos países participantes do Mundial afirmando que precisariam melhorar seu preparo para participar de tal evento.

Acredito na evolução natural das coisas e países hoje fracos poderão amanhã tornar-se fortes oponentes aos que hoje gozam das primeiras colocações. Tem sido assim a História de quase todos os esportes. Os campeões serão alguns poucos, os outros tantos a estarem ali participarão dos eventos pela finalidade primeira do esporte ou seja, o congraçamento, a confraternização e a aproximação de povos e culturas. O público que prestigia o esporte certamente saberá procurar a partida que lhe interessa assistir, tendo como opção pagar ou não para ver esta ou aquela partida. é assim em todos os esportes. No futebol em plena Copa do Mundo de 2002 se pôde assistir Arábia ( 1 ) x Alemanha ( 8 ) e nem por isso a participação da Arábia foi menor que a da Alemanha ou qualquer outro país que ali esteve: com orgulho a FIFA exibiu os seus participantes.

Voltando para a nossa Pelota, para sua evolução é muito importante que se possa participar de eventos desta grandeza, pois os atletas ao voltarem aos seus países voltam sem medalhas mas com o maior prêmio que um esporte pode lhes proporcionar que é o contato humano, as relações interpessoais e mais conhecimento técnico para a evolução do esporte em suas casas.

Lembro-me bem de participar de um Pan-Americano de Badminton (esporte que também pratiquei ) há muitos anos atrás defendendo o Brasil e fomos então derrotados pela superioridade enorme de meus oponentes . Desconsolada saí da quadra e assim fiquei até escutar uma musica que dizia: "Não há que chegar primeiro mas há que saber chegar". Passaram-se os anos e hoje meu país é o melhor da modalidade na categoria juvenil e o terceiro da América e aquela humilde participação foi na verdade uma grande contribuição histórica para que hoje conseguíssemos este resultado. Com trabalho e muitas participações iguais as minhas, fomos crescendo e crescendo e no calor destes relacionamentos pudemos encontrar cada vez mais o caminho da evolução técnica.

Frontón Club Atlético Paulistano (Brasil).
Estebe Ormazabal, Soraya Cuellas e Alfredo Soeiro.


Senti naquela crítica dura a estes países e que muitas vezes vem participar de campeonatos internacionais enfrentando dificuldades as mais diversas, uma certa falta de visão da realidade da nossa pelota e precisamos, isto sim, se desejamos que este esporte cresça, destes e de todos os países que queiram participar e deveremos recebê-los de braços abertos porque está neles o futuro da pelota exatamente porque está nas relações pessoais o desenvolvimento natural deste esporte e não no nível técnico de um ou outro país. Precisamos que ela seja difundida, que seja mais praticada e o melhor nível virá com o decorrer dos anos. Com o passar dos anos novos países chegarão e então devemos ser tolerantes e recebe-los de bem porque assim caminharemos para o que almejamos: a Pelota Basca ser um esporte olímpico para o que se exige primordialmente um número maior do que o atual de países praticantes. Se o nível hoje é baixo, então é esta nossa realidade, e se pensarmos objetivamente mais grave do que nosso nível é a quantidade de países onde se pratica o esporte e então surge o paradoxo seguinte: na Europa , onde o nível é fantástico, apenas 2 países jogam !!!!!

Fui a primeira mulher a participar de uma reunião de Pelota Basca internacional e naquela reunião foi aprovado que a participação feminina passaria a valer medalha pois até então não era reconhecida ! Pois bem, passaram-se os anos e neste último campeonato tivemos com destaque a participação do Peru que contava com unicamente uma equipe de frontenis feminino. Então eu pergunto: se dependêssemos hoje de um país para completar a exigência olímpica numérica de países praticantes da Pelota aquela equipe feminina seria uma parcela importantíssima para que atletas do nosso esporte pudessem participar deste evento que é o maior sonho de um esportista na Terra. Vejam a importância de uma participação, independente do seu nível porque sem esta e outras, aqueles de nível superior, não poderiam estar em uma Olimpíada. "é a história que não se escreve", uma vez me disse um amigo cientista político cubano; pois eu hoje penso e digo: ''Há que se escrever'', porque sem uma auto crítica explícita não se chega a nenhum lugar, não se cresce, ficamos preocupados com nível técnico quando este nível é resultado e é a síntese de uma evolução. Aceite Sr. Jornalista o nível técnico baixo destes países porque esta é a realidade do nosso esporte e para que possamos crescer é necessário que saibamos chegar, independentemente de chegar em primeiro lugar.