HISTÓRIA
 
Fonte: Federação Espanhola de Pelota Basca
 
1. INTRODUÇÃO

"O jogo de bola grande, pequena ou média, existiu sempre no mundo? É difícil de invalidar esta hipótese, visto que em toda parte existem vestígios deste ponto em comum: a bola ... Conseqüentemente, a bola, seja ela de resina, de couro, de fibras de palma, de madeira ou de cobre, jogada com os pés, a mão ou com a ajuda de algum tipo de instrumento, tem dado lugar sempre às diversões populares, jogos e frequentemente às apostas". (Le Flochmoan: "O Gênesis dos Esportes".)

Ao contrário de outros esportes mais recentes, a existência de jogos diferentes e variados de bola data de muito tempo atrás. A denominação de "jogo de bola" ou "para jogar a bola" não é um conceito univocal que fale sobre uma determinada especialidade do esporte. São muitas as culturas e os países que praticaram algum tipo de jogo de bola.

De fato, quase todos os esportes atuais cujo elemento básico constitui uma bola têm como ancestral alguma modalidade de um jogo de bola da antiguidade. Mas apesar da abundante literatura existente, esta não nos ajuda a esclarecer o panorama. A falta do rigor científico em muitas das investigações, a profusão de nomeações de "autoridades presumidas" na matéria, a generalização abusiva dos dados e da confiabilidade duvidosa nos casos, contribuíram para escurecer o esplêndido panorama a que, durante todo os séculos, os diferentes jogos de bola deram forma. Sendo assim, se algo pode caracterizar os jogos de bola é sua riqueza e diversidade.

Concordamos que para o objetivo desse texto existe a necessidade de limitar o que compreendemos por bola ou esportes de bola. Ou de esclarecer sobre quais especialidades ou modalidades de bola estamos nos referindo (no restante do texto passaremos a nos referir a bola como pelota).





2. DA ANTIGUIDADE Á IDADE MÉDIA

No espaço cultural europeu é obrigatória a referência aos jogos de pelota entre os gregos e romanos como antecessores, totalmente documentados. Mas não convém abusar das citações e das referências literárias da época, dado que estas são pouco explícitas quanto a descrição de como eram de fato estes jogos. Nos moveríamos em um terreno onde a dedução e a suposição receberiam um protagonismo indevido. Vamos recorrer então a idéia aplamente aceita de que a implantação dos jogos de pelota na Europa é conseqüência direta da romanização. Esta idéia não exclui, a possível existência de jogos nativos em enclaves geográficos determinados, nem qualquer uma que tenha introduzido outros elementos através do contato com o leste e a cultura muçulmana. Mas para tanto é necessário prová-la. A investigação está aberta.

Na Europa, os jogos de pelota são baseados fundamentalmente na França, nos Países Baixos, na Inglaterra, na Itália e na Península Ibérica. Nós temos muito poucas informações e citações dispersas da existência dos mesmos até a idade média baixa. A mentalidade do primeiro cristianismo é pouco inclinada à aceitação dos costumes pagãos e menos ainda a sua manutenção. E as atividades lúdicas e recreativas próprias do exercício físico e da cultura do ócio se incorporam completamente neste capítulo.


A partir do século XII e de forma progressiva vão aumentando as referências documentadas dos jogos de pelota. Os dados fornecidos pelos historiadores da época nos permitem estabelecer com rigor do que estes jogos consistiram, quais eram suas características e diferenças. São os dados selecionados das crônicas reais e dos trabalhos literários, que de maneira circunstancial se referem ao jogo de pelota. Não vamos incorrer no tópico da enumeração de datas e dos reis que de uma maneira ou de outra estão relacionados a prática do esporte. Não obstante, pode ser interessante recorrer, de forma sintética, aqueles dados que permitem extrair algumas conclusões esclarecedores do objeto de nosso assunto.

Em primeiro lugar, o implantação do jogo de pelota na França parece evidente, com diferença notável em relação a outros países. A modalidade mais prolongada e característica é o "jeu do paume" ou o "jogo da palma", isso deve dizer, jogo de pelota com a palma da mão. O nome permanecerá, embora em sua evolução posterior se pratique com diversos instrumentos.

A "paume" era praticada em duas modalidades: a "paume longue" e a "paume courte". A primeira jogada em espaços abertos, terrenos planos, nas muralhas das cidades ou dos castelos; a segunda, em lugares fechados, cobertos ou não, dentro de palácios e conventos. Ambos constituem um mesmo tipo de jogo, cuja diferença fundamental descansa sobre o espaço ou no terreno diferente do jogo onde se praticaram.

É significativo também, de um ponto de vista sociológico, que a "paume courte" era em sua origem uma modalidade privativa da nobreza e do clero, em razão precisamente do lugar do jogo: o tripot. O povo não teve o acesso a estes. Dai surge como alternativa o "paume longue", em terreno comum, a campo aberto e sem as complicações técnicas prescritas que a arquitetura das salas fechadas comportavam. Não é exata, porém, a apreciação de alguns comentaristas que mantiveram a idéia de que o jogo de pelota estava proibido para o povo e era privativo dos nobres, cavaleiros e clérigos. As proibições freqüentes, tanto reais quanto eclesiásticas, demonstram, precisamente, que sua prática era comum e estava extendida a todas as classes sociais. Estas proibições surgem para abafar os freqüentes escândalos e excessos que na ocasião destes jogos eram cometidos. Às vezes, os decretos reais mostram a preocupação de alguns monarcas pelo abandono das artes de guerra que a prática destes exercícios esportivos comportavam.

No curso dos séculos XIII e XIV o jogo do "paume" se espalhou por toda França. A. DE LUZE (1933) chega a comprovar a existência mais de 300 "trípots" ou jogos de pelota (como também se denominava em outros lugares o terreno de jogo), embora outros autores chegam a falar mais de 500. Isto quer dizer que, se no princípio as salas de jogo estavam localizadas nos claustros dos conventos ou em dependências palacianas particulares, neste momento muitas delas estavam localizadas nas cidades, freqüentemente em hospedarias e do acesso livre conseqüentemente, que foram exploradas por seus proprietários como o negócio por meio de seu aluguel. Nesta mesma época descobrimos a figura incipiente do "canchero", encarregado do "tripot", que vai realizar também o ofício de pelotero e de raquetero quando este instrumento se torna de uso comum. Com a passagem do tempo, este ofício - maitre paumier - adquire tal importância que começa a se constituir como uma união. Temos notícias mais escassas da mesma coisa na Inglaterra, onde o jogo de pelota era denominado "tenes", palavra de etimologia incerta mas facilmente identificável como a precursora do "tênis". A existência dos jogos de pelota também é identificada na Itália, de onde parece que se introduziu pela primeira vez a raquete provavelmente de origem bizantina e um certo tipo de pala.



Na península ibérica podemos rastrear a prática do jogo de pelota em textos que vão desde a "Etimología" de Isidoro de Sevilha (desde o ano 633), passando por "O livro de Apolonio", "A lei real da Espanha", "O livro dos jogos", "As partidas" ou "Cantigas ao virgin", estes três de Alfonso X "O sábio", até "O livro do amor bom" do Arcipreste Hita e "O Livro de Alexandre".

Embora possamos supôr legitimamente que estes jogos de pelota são uma adaptação nativa dos introduzidos com o romanização, a hipótese mais provável nos induz a pensar que são produto da influência francesa, como veremos mais adiante.





3. IDADE MODERNA

O século XVI contempla uma autêntica explosão do jogo na França e em uma boa parte de Europa Central. Esta situação permanece durante todo o século XVII para imediatamente iniciar seu declinio, que culmina com a Revolução Francesa, no fim do século XVIII. No que diz respeito a França, a documentação é abundante. Não era assim na Espanha, onde as referências são esporádicas e marginais, com exceção do trabalho de Cristóbal Méndez, em que dedica quatro capítulos ao jogo de pelota, contemplando desde o ponto de vista médico, e um dos "Diálogos" de Vives em que existe referência à pelota valenciana em contraste ao jogo de pelota que se praticava em Paris, algumas indicações permitem supôr que o jogo de pelota continuou tendo aceitação popular. Mas estas referências, embora interessantes em alguns aspectos, pouco nos dizem na realidade sobre as modalidades do jogo.

Na França, não obstante, como dissemos, as referências literárias são abundantes, administrativas e a propriamente descritivas do jogo. A obra de Pasquier "Recherches sul la France", que começa a ser publicada em 1560 e finaliza em 1621, é fundamental para compreender a evolução do jogo neste período, já que o autor, ao longo de sua vida, contemplou os reinados que vão de Francisco I a Luis XIII, outros autores significativos são Gosselin, Forbet, Saint-Didier e o italiano Scaino de Saló com seu "Tratado de giuoco della palla" de 1555.

Erasmo, Rabelais, Montaigne, assim como outros escritores, poetas, historiadores e cronistas reais contribuem com dados peculiares sobre o jogo, mesmo que sempre de um ponto de vista tangencial, como recurso poético a metáfora ilustrativa. As reiteradas, e conseqüentemente não cumpridas, proibições sobre determinados modos e práticas do jogo confirmam a extensão e a popularidade do jogo em todas as camadas sociais: os membros da corte e nobres, clérigos e estudantes, burgueses e plebeus praticavam com assiduidade "o esporte nacional" do "Royal Jeu de Paume", muito recomendado e dentro das normas higiênicas usuais, por muitos médicos da época.

De diversas fontes documentais podemos extrair algumas conclusões que ilustram o objeto de nossa investigação. Lugares, nomes e datas das salas de jogo e tripots, com a descrição de diversos lances do jogo, sistema de contagem (por quinela e por jogos), recomendações sobre aspectos de aprendizagem e treinamento de jogadores, descrições de posturas e dos golpes mais freqüentes e úteis; regulamento do jogo, características e confecção das diversas classes de pelotas e de ferramentas; privilégios e estatutos da Corporação de "Mof tres Poumiers" que regulam os direitos e os deveres destes primitivos "cancheros", que cumpriam também as funções de peloteros, de juízes e de instrutores do jogo, simultaneamente alugavam, "tripots". Sem uma dúvida, pela influência francesa, conhecemos a extensão do jogo para a Suiça, Alemanha, Holanda e Suécia, embora neles sua prática não se tornou popular. Não é o caso da Bélgica e da Inglaterra, países onde o jogo enraizou com força e chega, embora de forma residual, aos nossos dias.





4. A DECADÊNCIA DO JOGO

Embora durante o século XVII se manteve no auge a prática do "Jeu de Poume", é também neste século em que sua deterioração começa.

Sem entrar em detalhe na análise dos motivos para mesma, nós concordamos com a opinião de historiadores importantes do esporte que atribuem a mudança dos costumes e do gosto social da época, determinados fundamentalmente pela influência dos modos e usos dos membros da corte. Há aqui alguns testemunhos críticos, onde existe determinado sarcasmo:



"uma espécie de amaciar dos corpos e das almas é pronunciada e chama mais a atenção por seus sinais exteriores óbvios, principalmente na classe elevada." (jusserand). "em nossas épocas, um homem que se dedicasse com excesso aos exercícios nos parecia depreciado, porque não temos objetos de investigação fora do que chamamos de recreações: é a fruta de nosso luxo asiático " (La Enciclopedia). "hoje em dia, com a ociosidade que todos os grandes perdem seus dias desde San Petersburgo a Madrid, o único incentivo que os estimula são seus jogos miseráveis de naipes, não é talvez a dificuldade das combinações, sem que suas almas amordaçadas" (Voltaire). "há talvez em nossos dias algum homem prudente que queira fazer a algum exercício, e que não se considera envilecido para fazer o uso, mesmo que seja mínimo, de seus membros afeminados" (Dr. Geoffroy). Estes duros julgamentos, talvez excessivos, atestam a tendência da época. Será pelo contraste a esta valorização de nosso costume puro de qualificar como "nobre, viril e racial" o esporte de pelota?

Seja por estas e outras razões mais complexas, o fato é que a partir da Revolução Francesa a decadência do jogo é séria, que vai desaparecendo progressivamente das grandes cidades. As reformas dos "tripots", quando não eram demolidos, para dar boas-vindas a um outro tipo de espetáculo mais rentável e mais em moda, como os espetáculos do teatro e do circo. No fim do século XVIII a maioria delas desapareceu. Curiosamente, nesta época precisamente quando temos notícias dos primeiros "tripots" no País Vasco-Francês, prontamente convertidos no que hoje chamamos de trinquetes, e que penetraram, sem muito escândalo (Larramendi e posteriormente Iztueta) - na província de Guipúzcoa.


Desde esta época é preciso emfatizar os nomes de Garsault ("Art du paumier-raquettier et de la paume", 1967), Bellot ("La paume, est-elle un preservatifcontre les rhumatismes?", 1745), Mannevieus ("jeu real do paume... ", 1783), Barcellon (Re gles et principes de Paume, 1800), Bajo (Elo ge de la Paume, 1800), Burette (Memoire por servir a 1'histoire de la Spheristique ou de la paume des andens, 1736), entre outros.

Na Espanha, uma vez mais, infelizmente, são poucas as notícias que temos do jogo de pelota. Algumas referências em Covarrubias, Quevedo, Cervantes, Calderón de la Barca, Zabaleta (El día de fiesta por la tarde, 1660), Rodrigo Caro (Días geniales o lúdicos, 1630?), Ortiz Repiso (Noticias y modo de jugar a la pelota..., hacia 1785) e Antillana, criticando a obra anterior (Carta crítica sobre las "Noticias y modos...", 1786) são indícios que mostram a continuidade do jogo de pelota no país, referindo-se as regiões de Castilla e Andalucía preferencialmente.

Com esta rápida síntese sobre as origens e a evolução dos jogos de pelota na Europa, de uma perspectiva cronológica-geográfica, observamos que ao longo do século XIX quase se consumou o desaparecimento do "Jeu do paume" na Europa, ficando restrito a algumas zonas do noroeste da França, Bélgica, norte da Itália, junto com outras variedades dos jogos de pelota como o "tamis", o "tambureflo", a "baile pelota", o "fives" (Irlanda), o "squosh", o "paddie-ball", o hondall, o "rocquet-bom", o "lawntennis", todos esses jogos de pelota que com justiça podem obter com sucesso sua conexão original como derivativos do "Jeu do paume", a "baile pelote".





5. COMPETIÇÔES DE PELOTA

A importância dos desafios entre os pelotaris, alguns dos quais entraram para a história, geraram relatos precisos de onde temos as primeiras notícias históricas fidedignas da prática da pelota, podemos mencionar entre eles: o desafio de Hernani (1720) entre navarros e guipuzcoanos, o de Bayona (1755) entre vasco-franceses, o de Cartagena, e no mesmo ano, entre navarros e levantinos, o de Leiza, em Navarra (1759), e muitos outros. Em todos as crônicas emfatizam o ambiente popular e festivo em que eram celebrados, a relevância do acontecimento, as grandes apostas que foram feitas entre aqueles a favor de um lado ou do outro, e outros detalhes engraçados. Infelizmente, pouco podemos obter destas referências para reconstruir o tipo de jogo que se praticou e como se desenvolveu.




Estamos em pleno século XVIII e o jogo de pelota por antonomasia era o "jogo renuncía" com luva ou laxoa. Salvo as figuras históricas de Perkain, o pelotari dos Aldudes, Arantza, Simón, Indart, etc, pertencentes à última década do século, em tempos mais recentes - no último terço do século XIX nos encontramos com o começo do profissionalismo, que vai se formando paralelamente a proliferação dos desafios e dos confrontos entre pelotaris de renome como da reputação de "Chiquito de Azcoitia", "Pola" de Marquina, "Bisimodu", padre Laba, "Paysandú" e o gênio da eplota: "Chiquito de Eibar", que para muitos cronistas representaram o ponto mais alto do pelotarismo.


Na última década do século XIX e nos vinte primeiros anos do século XX assistimos à implantação de empresas de profissionais, a consolidação das modalidades mais representativas da pelota: mano, pala, remonte e cesta punta, à expansão do pelotarismo pelo mundo inteiro.

A partir dos anos vinte, e de forma um tanto esporádica, se organizaram os torneios e campeonatos de mano, remonte e pala entre os pelotaris profissionais. No ano de 1924 se apresentou a pelota como esporte de exibição nos jogos olímpicos de Paris. A relevância deste evento acelera o processo de configuração da Federação Internacional de Pelota Vasca (FIPV) (1929-30), cuja atividade competitiva não começará até 1952 com o celebração do primeiro Campeonato do Mundo de Pelota. No campo amador as competições começam em 1925, data de constituição da Confederação Espanhola de Pelota Vasca. São incluidas as modalidades de mano (duplas), pala, remonte e cesta punta. Participam as federações das pronvíncias de Álava, Aragón, Castilla, Catalu�, Guipúzcoa, Navarra, Salamanca e Vizcaya.



Após o parênteses da guerra civil, em 1940 recomeça a atividade federativa e com ela a competição, continuando sem interrupção até hoje. Se introduziu a modalidade de mano (individual) e a especialidade de pala corta. Nasce assim o Torneo de Federaciones, a competição mais importante do panorama amador que é desenvolvido pelo sistema de liga de duas rodadas e nos níveis de primeira e segunda categorias. As quatro primeiras federações classificadas em cada especialidade disputam a Copa pelo sistema de eliminação simples: semifinals (primeiro contra quarto e segundo contra terceiro) e a final: vencedores de ambas as partidas que disputam o título. A federação que mais títulos obtêm se proclama campeã.

Na década de 60 um grande desenvolvimento da atividade competitiva ocorre. Nascem os campeonatos nacionais (juvenil e de clubes), em primeira e segunda categoria. Se multiplicam os torneios comerciais e regionais: Torneo Gravn (entre as federações Guipúzcoa, Rioja, Álava, Vizcaya e Navarra) na categoria absoluta, juvenil e escolar; Semana de Pelota de Gijón; Torneo San Isidro de Mano (Madrid); Torneo San Fermín Chiquito de Pala Corta e Paleta Cuero (Pamplona), etc, que são um fiel reflexo do aumento da atividade em toda a geografia espanhola.

Atualmente por causa do panorama da pelota foram modificadas as estruturas das competições existentes, adaptando-as à realidade atual, separando a mano e as com ferramenta e se criando novas competições: Campeonato Europeu de Clubes (frontão de 30m, 36m e cesta punta), Abertos da Espanha (frontenis, cesta punta, mano e ferramentas em frontão de 36 metros e trinquete). Um amplo programa de atividades que confirmam o crescimento da pelota, até agora desconhecida, que permite encarar com otimismo o futuro do esporte.